quarta-feira, 4 de junho de 2008

Estratégia de Futuro


Como aprendizagem, é importante referir que toda a forma como a Fundação Oriente pensou organizar o museu demonstra uma estratégia forte, não apenas com o intuito de educar, trazer pessoas à cultura, mas também tendo em atenção o carácter económico necessário para que o museu tenha sucesso e possa, consequentemente, aplicar esses fundos em outras actividades. Na rentabilização deste novo espaço, compreende-se que o público é visto também como consumidor e, como tal, torna-se importante produzir produtos atractivos que sejam interessantes para o seu consumo. De facto, o objectivo de chamar a atenção dos visitantes é o mesmo que em todos os outros espaços de cultura. No compreender que a variedade de propostas pode estar no conteúdo do que se apresenta, mas também em todo o merchandising e outras actividades que a adornam poderá estar a solução para muitos dos problemas relativos aos fundos para a cultura.

Marketing e Comunicação


No final da visita, tivemos ainda oportunidade de conhecer a responsável pela área de marketing e relações públicas do museu, Margarida Romão, que nos explicou um pouco as opções relativas à divulgação e promoção do novo espaço.
Tendo como objectivo maior a projecção do Museu do Oriente como um espaço que “é muito mais que um museu”, pretendeu-se promover o espaço através de um design jovem e da utilização das seis cores relativas a cada valência. A estratégia adoptada passou por analisar a concorrência, estudar preços indicativos, estabelecer parcerias com os transportes públicos, para além da grande variedade de publicidade na televisão, mupies e cartazes em várias zonas da cidade de Lisboa e resto do país. Além disso, foram distribuídos flyers com o jornal diário gratuito “Metro” e organizou-se uma grande “Festa do Oriente” para a inauguração, com três dias repletos de actividades e entrada gratuita, que resultou num êxito.
Sendo um espaço novo e com o carácter também comercial já assumido, denota-se em relação ao Museu do Oriente estratégias muito mais agressivas do que em qualquer um dos outros espaços já visitados, na medida em que existe toda uma equipa forte e um grande número de acções com o objectivo exacto de tornar o museu conhecido, de suscitar o interesse, de apelar à visita.
Como resultado, a responsável de comunicação afirma que o “objectivo foi superado”, com o número de visitantes a ultrapassar o previsto no primeiro mês. A estratégia futura passa por continuar a receber apoios por parte dos mecenas do museu, rentabilizar os espaços, alugando-os a outras entidades, divulgar as actividades em diversas frentes, sendo uma delas o Instituto de Turismo de Portugal e ir alargando o público-alvo. Primeiramente, o português, depois o espanhol e, posteriormente, alargando ao resto da Europa.

Espaços das exposições




Nos espaços de exposição do museu propriamente ditos, dividem-se em três andares distintos as exposições permanentes, “Presença portuguesa na Ásia” e “Deuses da Ásia”, e uma exposição temporária, “Máscaras da Ásia”. À entrada, as escadas iluminadas dão a entender que estamos a entrar num espaço diferente, onde a escuridão é evidente. A ideia que esteve na base desta escolha prende-se com a vontade de criar um espaço de recolhimento, contemplação, numa concepção de “descoberta de tesouros”, da entrada numa “gruta”, onde apenas os “tesouros” estão iluminados.
O local, muito escuro, com algumas das placas informativas de difícil leitura, acabam por não ser um espaço de exploração muito bom para alguns grupos de visitantes, como crianças ou idosos, devido a estas especificidades. Também a pensar nisso, considerou-se necessário aproveitar algumas ideias para que o museu pudesse ser usufruído também por elas de uma outra forma que não apenas a área de exposição, tal como já explicitado anteriormente.
Sempre resultado de opções, esta disposição e organização das salas de exposição são motivo de controvérsia. Ainda numa fase inicial, após a inauguração a 8 de Maio, é do interesse dos responsáveis do museu canalizar todas as opiniões acerca desta disposição, assim como de outros aspectos do espaço, para absorverem o que o público pensa e, nalguns casos, alterar aquilo que considerarem suscitar motivos de alteração. Seja como for, é importante referir que todos estes pormenores, quer sejam ao nível da arquitectura, do design ou dos materiais de comunicação, têm sempre um carácter de alguma forma subjectivo, importando agradar ao maior número de pessoas, mas que acaba por se restringir sempre, em última instância, a uma opção “gosto/não gosto”. Tendo em conta esta questão, importa estabelecer um plano de acção consistente, conhecer de forma eficaz o público a que se destina e estar pronto a proceder a alterações sempre que se perceber que há essa necessidade, compreendendo que é importante que todos os projectos não sejam completamente estáticos mas dinâmicos.

Serviço Educativo




A sala do Serviço Educativo mostra alguns trabalhos de acções levadas a cabo com crianças de diversas escolas e instituições com o objectivo de se debruçarem sobre alguns temas relacionados com o Oriente. Pensar na “Peregrinação”, de Fernão Mendes Pinto, por exemplo, fazer intercâmbios entre alunos portugueses e asiáticos, construir peças tipicamente chinesas ou indianas, foram desafios colocados às crianças para transformar também este espaço numa exposição diferente. Como já tínhamos constatado nas outras áreas do museu, esta é também uma tentativa de envolver outros públicos, criar interesses específicos direccionados para idades diferentes das habituais num museu. “Esta é a minha exposição preferida!”, assegura Carla Mendes.

Centro de Documentação



O Centro de Documentação do museu, situado no piso inferior do edifício (-1) está principalmente direccionado para temas de ciências sociais e humanas, dedicado mais especificamente à Ásia e à presença portuguesa nesse continente. Ainda numa fase inicial, o centro de documentação apresenta, de momento, apenas as publicações e livros em papel, estando em fase de organização de audiovisuais e imagens, um projecto futuro. Na diferença em relação ao Palácio do Armador está o objectivo de ganhar uma maior visibilidade, através do acesso livre e um horário mais alargado para as pessoas para quem está mais direccionado, estudantes e professores, e a possibilidade de uma taxa de crescimento muito grande ao nível das obras postas à disposição dos seus usufruidores. Nesta iniciativa, segundo Francisco Peixoto, responsável do espaço, pretende-se uma maior atenção a quem realmente usufrui o centro, compreendendo as necessidades e especificidades deste público mais restrito, preocupação a ter sempre que nos dirigimos a uma determinada audiência.
Com a selecção organizada numa ordem geográfica, pretende que os leitores caminhem pelo centro de documentação como se estivessem a caminhar pela Ásia. Ou seja, nada é deixado ao acaso, sendo que tudo é pensado para constituir um sentido específico. No fundo, revê-se aqui a questão de que todos os trabalhos a que nos dedicamos, todos os pormenores relacionados com um determinado local, devem fazer sentido, ter uma razão específica para existirem e fazerem parte do material que promove aquele espaço. Nada deve ser deixado ao acaso.
Para futuro, a equipa do Centro do Documentação (constituída apenas pelo responsável, com formação em História e mestrado na área de bibliotecas, e um técnico de biblioteca) pretende diversificar as ofertas do espaço, através de algumas actividades que sejam pertinentes organizar nesta área, como o lançamento de livros e exposições acerca de obras ou autores, num intuito de tornar o local atractivo não apenas para os leitores mas outros interessados nos temas propostos, política já considerada nos outros espaços do museu.

Cultura associada a economia?


Organizado para ser muito mais do que um Museu do Oriente, o espaço pretende ser um centro cultural, onde as diferentes áreas se complementam e enriquecem as próprias exposições. Por este motivo, não interessa apenas chamar a atenção para aquilo que oferecem nas diferentes mostras, motivo primeiro para que os visitantes se dirijam ao espaço, mas também canalizar esforços no sentido de proporcionar muitas outras propostas que dêem visibilidade ao espaço e tragam mais e diferentes públicos. Deste modo, muitas outras actividades são organizadas em simultâneo, aproveitando ao máximo os diferentes espaços do museu.
Primeiramente, a recepção de ofertas públicas, actividades de um âmbito geral dependendo das datas que se comemoram, workshops de outras entidades, ofertas variadas nos seus conteúdos. Foi o caso da recente celebração do Dia da Criança, a 1 de Junho, onde se proporcionou aos mais jovens a possibilidade de fazer um grande número de actividades, entre as quais a produção de máscaras tendo como base a exposição temporária patente no piso inferior do museu, e que trouxe ao espaço não apenas as crianças mas todos os elementos das famílias.
O museu transforma-se, assim, não apenas em lugar de entretenimento mas também de aprendizagem, os dois aspectos mais importantes, segundo Carla Mendes. Além de se proporcionar divertimento, o Museu do Oriente, como qualquer outro espaço de cultura, defende a nossa orientadora, deve ser também um espaço de consumo. “Temos de flexibilizar estes conceitos. Podemos e conseguimos transformar o interesse lúdico dando-lhe um sentido pedagógico”, afirma. Carla Mendes, e toda a organização do museu, pretendem desmistificar o tabu quando toca a associar cultura e economia. De facto, este espaço como centro cultural funciona economicamente, com a entrada de dinheiros. É por isso que abrem as portas para o aluguer de alguns espaços a outras empresas que promovem aí os seus produtos, aceitando também diversos apoios de mecenas (no caso do Museu do Oriente, o BES, Tricana, TVI, Sony, etc.), que canalizam grande parte dos orçamentos e materiais necessários para todo o funcionamento do museu. Desmistificando este funcionamento, o Museu do Oriente recebe, assim, diversos fundos que orienta para as diferentes necessidades que vai tendo.

Design e Lettering




Todo o design do edifício, as placas indicativas, os materiais gráficos, lettering e conceitos de comunicação foram pensados pela empresa B06, que ganhou o concurso promovido pela Fundação Oriente. A essência de base, de onde se partiu para todo o material produzido, prende-se com as sete cores fortes que são o símbolo do museu, associadas a diferentes áreas do espaço. Assim, o preto está ligado à instituição, o verde ao conhecimento, o roxo aos espectáculos, o branco simboliza o edifício, o laranja, a gastronomia, o vermelho, as exposições e o azul, os encontros. As letras remetem a uma escrita oriental, recorrendo a pormenores de peças do museu, todas com referências ao Oriente.

No fundo, trata-se também de transferir o conceito e conteúdo do museu no próprio material que o comunica, fazendo como que uma introdução ao que podemos ver nas colecções. Esta preocupação pretende-se que esteja sempre presente em tudo o que representa o museu, quer se trate apenas de uma placa indicativa, quer seja um cartaz no centro de Lisboa a convidar a visita.

Ter estas considerações em atenção é também o cuidado necessário que se espera de um promotor, que não se quer a elaborar qualquer que seja o material sem que este esteja bem pensado dentro da ideia que é o contexto. Ter em atenção estes pormenores canaliza o trabalho para resultados mais cuidados e com uma melhor qualidade.

O edifício - escolha


Entre as diferentes hipóteses estudadas, o Museu do Oriente ficou finalmente destinado a nascer num antigo frigorífico de bacalhau. Para trás ficou a vontade de criar um espaço de raiz, mais central, naquela que seria a “Praça das Fundações”, juntando a do Oriente à Gulbenkian, ou a fixação na zona mais a oriente de Lisboa, o Parque das Nações. A opção recaiu sobre o edifício em Alcântara, hoje visto como se fosse um barco a atracar no cais após uma viagem ao Oriente, chamando assim a atenção para o valor patrimonial que se coaduna com a identidade do povo português. Nestas opções, para além de todos os outros factores monetários e arquitectónicos, importa realçar que, muitas vezes, a importância de se fazer referência a valores que são universais acaba por constituir uma mais valia para o propósito que se pretende.
A escolha do local limitou o projecto arquitectónico, já que o edifício apresentava um pé direito muito baixo e as salas estavam preenchidas por grandes vigas, pilares muito largos que cortavam a própria amplitude dos espaços. A preocupação prendia-se, assim, com a adaptação que foi necessário ser feita, imaginando vitrinas que “engolem” os pilares de forma a que passem despercebidos aquando a visita. Neste caso, a questão prendia-se com as características físicas do próprio espaço, mas podemos extrapolar um pouco estas considerações para aqui que poderá ser também o trabalho de promoção de um contexto profissional. A necessidade de adaptação ao que, muitas vezes, já existe, faz também nascer novas ideias e a preocupação em recuperar esses aspectos de uma forma nova, moderna e adaptada àquilo que se pretende. A própria identidade do povo português é fruto de uma miscenização entre diferentes tradições, culturas e povos que pode ser utilizada para promover os conteúdos da exposição, trazendo todos os que, de alguma forma, se identificam com ela.

Contexto


Fomos acompanhados por Carla Mendes, uma das responsáveis do Serviço Educativo do Museu.

O Oriente é notícia!

"Museu do Oriente abre portas a 8 de Maio
Fundação Oriente prestes a celebrar 20.º aniversário

A data é definitiva. Será no mês dos museus e, também, no ano em que a Fundação Oriente (FO) comemora o seu 20.º aniversário: projecto com duas décadas, por várias vezes adiado por vicissitudes de localização, o Museu do Oriente abrirá as suas portas ao público a 8 de Maio. O anúncio foi feito ontem pelo presidente da FO, Carlos Monjardino, na apresentação do museu que, sedeado no Edifício Pedro Álvares Cabral, em Alcântara, dará novos usos ao antigo complexo de armazéns frigoríficos do Porto de Lisboa, projectado pelo arquitecto João Simões, em 1939.Resultado de um investimento de "25 a 30 milhões de euros" e adaptado sob projecto de Carrilho da Graça e Rui Francisco, o museu respeitará a traça original e os baixos-relevos de Barata-Feyo apostos na fachada. Terá um jardim, concebido por Gonçalo Ribeiro Telles, e o acesso, por transporte público, à zona portuária será facilitado: após negociações com a Carris, uma carreira de autocarro circulará pela faixa interior, circunstância que ajudará equipamentos culturais vizinhos como o Museu da Electricidade.Iniciado logo após a constituição da Fundação (a 18 de Março de 1988), por aquisição de espólio ilustrativo das relações que Portugal estabeleceu com a Ásia, o acervo do Museu do Oriente integra, entre outros, núcleos de arte chinesa, indo-portuguesa, japonesa e timorense. Núcleos traduzidos por objectos votivos e de ritual, cerâmicas e terracotas, têxteis, mobiliário, pintura e máscaras, e aos quais se juntou, em 1999, por doação do sinólogo francês Jacques Pimpaneau, a colecção Kwok On de arte popular asiática: 13 mil peças, muitas delas raras e de grande escala.O acervo da Fundação (projecto museológico da responsabilidade de Fernando António Baptista Pereira; direcção de Natália Correia Guedes) partilhará ainda a sua casa com um conjunto de colecções externas de idêntica temática. Provenientes do Museu Machado de Castro, em Coimbra, colecções doadas ao Estado como as de Camilo Pessanha e Teixeira Gomes ficarão aqui integradas, em regime de depósito de longa duração. Em regime de empréstimo, figurarão também peças, entre outros, da Fundação da Casa de Bragança, museus Militar, de Arte Antiga e do Traje, Arqueológico do Carmo e de Antropologia da Universidade de Coimbra, bem como de privados.Apesar de não ter sido uma primeira escolha, este edifício - "curioso" pela sua tipologia e "com uma localização privilegiada", nas palavras de Carlos Monjardino - constituiu, lembrou, um desafio para os projectistas, dada a segmentação dos seus interiores. Ao longo dos anos, recorde-se, o museu teve várias localizações em perspectiva: Praça de Espanha (terrenos adquiridos pela FO, onde se mantêm os pavilhões da feira local, num processo "que ainda hoje se arrasta"); terrenos do Pavilhão do Futuro (actual Casino de Lisboa); Cinema S. Jorge. Actualmente classificado como Valor Concelhio, o Edifício Pedro Álvares Cabral aguarda, por pedido da Fundação ao IGESPAR, uma reclassificação como Imóvel de Interesse Público."

in DN

O que já sabíamos

Links

Museu do Oriente

Fundação Oriente

Localização - Oriente