quarta-feira, 23 de abril de 2008

Futuro

Numa perspectiva geral de toda a organização e elementos do museu, considero que existe um grande cuidado em todas as áreas para que se consiga chegar ao máximo das possibilidades que o espaço e as suas exposições permitem. Pensado e estruturado para educar, para proporcionar aos seus visitantes uma envolvência geral que ultrapasse as peças imóveis expostas no museu, denota-se uma grande dedicação e cuidado tendo em conta todo um novo conceito de museu, mais abrangente e dinâmico. Claramente, a equipa que trabalha no espaço compreende a necessidade de proceder desta forma, organizando-se para que consigam chegar a mais experiências, a mais projectos e, consequentemente, a mais pessoas.

Neste âmbito, a função de um promotor artístico e de património seria mais “um par de mãos”, provavelmente com outros conhecimentos que poderiam potenciar as novidades e planos que o museu já detém. Denota-se, de uma forma geral, que através de uma planificação cuidada e da tentativa de aproveitar ao máximo os meios que se tem, é possível fazer uma diversidade de actividades e projectos, mesmo com uma equipa ou orçamento reduzidos.

Planificação e Financiamento




Quanto à planificação do museu, as exposições e agenda do ano seguinte começam a ser preparados sempre em Setembro anterior. O plano, já acrescido de orçamento e um esquema o mais próximo possível da realidade, é enviado à autarquia para que seja incluído no orçamento municipal, o principal financiador do museu. Além das organizadas pelo espaço, também é possível que recebam exposições de outras instituições e eventos pontuais, como foi o caso da recepção das comemorações do 10 de Junho, em 2007, onde se aproveitou a injecção de fundos para fazer algumas remodelações que, sem essa possibilidade, teriam de ficar para mais tarde.

Todos os meses é elaborado um relatório de visitantes, não apenas quantitativo mas também qualitativo, na medida em que lhes importa saber qual o tipo de público que visita o espaço. Na sua maioria, são alunos do primeiro e segundo ciclos de estudos, além de visitas de adultos organizados. Fazem-no recorrendo a fichas de marcação de visitas e fichas estatísticas do serviço educativo, que usam para “espicaçar, para fazer notar a importância do que fazemos, apresentar projectos, ser inovador, procurar qualidade, avaliar…”. Tudo qualidades que o responsável considera que alguém que trata da promoção de um espaço como este deve contemplar e ter em conta.

Serviço Educativo e Centro de Documentação








Também na retaguarda, mas com trabalho muito visível, encontra-se o Serviço Educativo do Museu. O orientador da nossa visita refere que há uma grande preocupação em elaborar actividades que interessem a todas as idades, sendo da responsabilidade do museu proceder a uma educação não formal de crianças, jovens e adultos. Constata-se que, cada vez mais, os visitantes dos museus se interessam por visitas culturais estruturadas, em que haja uma preocupação evidente com aquilo que se ensina e com o que se vai ver. Na divulgação e promoção do museu, este é um aspecto também importante a ter em conta, na medida em que o que se promove deva ter impacto num número muito alargado de pessoas e interesses.
Daí que o Museu do Trabalho se preocupe não só com o que mostra no seu espaço, entre quatro paredes, mas também com o que pode acrescentar à comunidade, através dos conhecimentos e materiais que o museu detém. Outros serviços, como a constituição de maletas pedagógicas, emprestadas às escolas para que façam elas próprias a aprendizagem dos seus alunos, o apoio a projectos de vários tipos, através da preparação de visitas, ateliers, etc., actividades como gincanas culturais, são diversos projectos que extrapolam as paredes do museu, mas que os seus responsáveis ainda consideram como suas funções. Este ano o museu está direccionado para viver as multiculturalidades existentes em Setúbal, através da organização de tardes mensais interculturais, onde há uma partilha entre o que o museu tem para oferecer e a comunidade que dá também a conhecer a sua cultura e os seus saberes. “Importa ir ao encontro dos públicos”, refere Luís Catalão.
Além disso, o Centro de Documentação, devidamente catalogado com revistas e livros sobre os temas de que o museu trata de uma forma geral, permite dar apoio a investigadores que, muitas vezes, recorrem ao espólio do museu, tendo havido já diversos estudos elaborados tendo por base esta documentação.
No Serviço Educativo do museu, numa pequena sala cheia de bonecos, cenários e materiais, trabalham quatro pessoas: um animador sócio-cultural, duas educadoras e uma técnica de património. Estas pessoas fazem um pouco de tudo, quer montar histórias ou exposições, como construir fatos e materiais diversos. “São coisas feitas com poucos meios mas com muita vontade. Temos de ser polivalentes e gostar muito daquilo que fazemos”, assegura o orientador da visita. O material utilizado é muitas vezes reaproveitado, e até “os cortinados lá de casa servem para fazer os vestidos da Luísa Tody”.

O espaço que não se vê

“Tão importante ou mais importante que o espaço expositivo é o espaço da retaguarda”, palavras de Luís Catalão. O armazenamento das peças, o espaço para guardar as diferentes exposições e a sua correcta preservação torna-se muitas vezes o maior problema de um museu, principalmente naqueles que não têm fundos ilimitados. Além disso, importa ter alguma atenção com os materiais produzidos pelo museu para a sua divulgação, expositores, placares informativos, etc.
Não podemos, por isso, estar apenas preocupados com o que se produz, mas também com o seu acondicionamento, para que não existam gastos excessivos ou redobrados em orçamentos já de si limitados, algo a ter em conta na promoção de trabalhos ou exposições que exijam material de grande porte.

Colaboradores "emprestados"

O Museu do Trabalho tem a possibilidade de colaborar com outros museus municipais, ganhando também com esses protocolos. Além das parcerias de empréstimo de materiais e exposições completas, os próprios técnicos de documentação do Museu de Setúbal, por exemplo, ou os trabalhadores das diferentes áreas na autarquia, como os carpinteiros ou electricistas, dão uma ajuda naquilo que é necessário no Museu do Trabalho.
Se estes “empréstimos” diversificam o trabalho dos técnicos e permitem colmatar as faltas existentes nos diferentes espaços, aproveitando ao máximo os recursos humanos da autarquia, também estão, por consequência, limitados àquilo que podem fazer, quer a nível das suas próprias competências, como às restrições de tempo e trabalho que este formato apresenta.
No entanto, tal como já foi referido anteriormente, esta é uma situação que se pode encontrar praticamente em todos os locais de trabalho, onde a polivalência e a técnica do “faz-tudo” permitem que um número pequeno de pessoas esteja directamente ligado a um espaço de trabalho.

Gestão do Património

Apesar do espaço cheio, direccionado já para as exposições permanentes que apresenta, o museu continua a adquirir colecções, recebendo também peças que aí são depositadas pelos seus detentores e algumas doações. É o caso do famoso “Carro do Ervilha”, um vendedor de gelados que percorria as ruas de Setúbal a apregoar os seus produtos desejados. A viúva deste senhor, na altura do seu falecimento, doou o carro ao museu, que lhe deu lugar de destaque. O museu funciona, assim, também como lugar de memórias colectivas, como espaço que guarda recordações e histórias, como se se abrisse uma caixa de surpresas.
Luís Catalão chamou-nos a atenção para a necessidade de ter muito cuidado na gestão destes patrimónios. Além das peças detidas pelo museu, que devem estar muito bem inventariadas e registadas, esse registo ganha ainda uma maior importância no caso de doações ou empréstimos. É um trabalho de escritório, “de interiores”, mas que pode significar a boa ou má gestão de um espaço museológico.

Fábrica - O Espaço








O modo como as exposições estão organizadas reflecte a necessidade de adaptação de um espaço que não era, na sua origem, direccionado para receber um museu. Pelas características que apresenta, o mais sensato terá sido recriar no grande “open space” da fábrica a própria fábrica, através da exposição de ferramentas, máquinas, materiais, bonecos a personificar as trabalhadoras e máquinas explicativas de todo o processo litográfico. Desta forma, a fábrica permaneceu na fábrica, trazendo até aos visitantes a possibilidade de verem todos os passos “da lota até à lata”.
No espaço amplo, é necessário referir apenas que a zona reservada à mostra de litografias é um pouco exígua e esconde a parte eléctrica do museu, onde podemos tropeçar nalguns fios menos escondidos. Para descer a esse piso térreo é necessário utilizar as escadas, ou o elevador, que se encontrava, ao momento, fora de serviço, o que tornaria a mobilidade muito reduzida para quem necessitasse de o utilizar.

A Mercearia Liberdade






“Foi uma prenda que nos caiu no colo!”, afirma Luís Catalão, ao referir-se à Mercearia Liberdade. Obra do acaso, a mercearia doada, e todo o seu recheio, trouxeram ao museu uma mais-valia que importa salientar. Ter a possibilidade de ver exactamente como funcionava uma antiga mercearia, poder ver os pesos, as medidas, a forma como se cortava os produtos, as antigas embalagens, a forma como se dispunham nas prateleiras e montras, os documentos de contabilização dos gastos, transforma o museu num espaço de aprendizagem por excelência, permitindo uma vivência mais directa com um trabalho de um passado ainda recente. Sempre que há a possibilidade de criar toda uma realidade num museu, isso traz-lhe motivos de interesse que fazem a diferença e devem ser impulsionados e transformar-se em chamariz para o mais que o museu oferece.
Não servindo particularmente como exemplo, porque obviamente não estou ao corrente de tudo o que acontece e aparece de novo nos museus por todo o país, antes desta visita desconhecia por completo a existência de um espólio como este, transplantado na totalidade para o espaço museológico. Deveria ser utilizado como exemplo do que pode ser feito nos museus que tratam dos assuntos mais diversos, apreciado e divulgado pelas características únicas que apresenta. Além do grau de interesse para qualquer pessoa que se dirija ao museu, este é um espaço de aprendizagem que funciona na perfeição para crianças e adolescentes que não tiveram já a oportunidade de ver uma mercearia como esta funcionar na realidade. No caso da mercearia do Museu do Trabalho, o pormenor vai até às ratoeiras no armazém ou ao chupas da montra comprados pela vereadora da cultura, no interesse de fazerem os possíveis para que o local ficasse o mais próximo da realidade que fosse possível. Este é um aspecto a ter em conta na elaboração, organização e promoção de um museu, que pretende exemplificar os assuntos que trata da melhor forma exequível.

Contexto e Actividade Desenvolvida




Sedeado numa antiga fábrica de conservas de peixe, a Fábrica Perenes, o Museu do Trabalho Michel Giacometti, partiu de um movimento de serviço cívico estudantil orientado pelo etnomusicólogo Michel Giacometti, que orientou os alunos para a recolha de materiais e objectos diversos sobre as principais actividades levadas a cabo no concelho de Setúbal.
Com cerca de 1200 peças encaixotadas, entre as quais alfaias, ferramentas e outros instrumentos utilizados na faina agrícola, para além de registos sonoros de dizeres e ensinamentos populares, o museu foi criado em 1987, tendo passado para a antiga fábrica de conservas, adaptada para receber exposições, em 1995, numa requalificação do arquitecto Sérgio Dias com o apoio ao nível da museologia da directora do museu, Isabel Victor, Fernando António Baptista e Ana Duarte.
O edifício é constituído por cinco andares com diversos espaços de exposição, sendo um deles a própria reconstituição da fábrica. Integrado num antigo bairro de pescadores e salineiros, nele moravam também as operárias da indústria conserveira que aqui trabalhavam.
Já depois de estarem na actual localização, entrou-lhes um dia um senhor no museu a oferecer uma mercearia completa, com todo o seu recheio, que ía ser destruída na Avenida da Liberdade, em Lisboa. Os responsáveis do museu não se fizeram rogados e retiraram todo o recheio, desde montras, estruturas e antigos instrumentos.
Nas instalações, além da mercearia, estão albergadas outras duas exposições permanentes: “A Indústria Conserveira – Da lota à lata” e “Mundo Rural”, a colecção etnográfica de Michel Giacometti e génese do museu.
Luís Catalão, animador socio-cultural e um dos responsáveis do Serviço Educativo do museu, acompanhou-nos na visita às diversas exposições, para além das instalações dos vários departamentos que o constituem.

Curiosidades


Uma imensa mercearia antiga foi oferecida por completo ao Museu do Trabalho. As visitas começam com a oportunidade única de ver as montras e as máquinas "à antiga".

O que já sabíamos

Sites Oficiais:

Rede Portuguesa de Museus

Museu do Trabalho (Geocities)

Programa Cultura 2007

Câmara Municipal (dados)

Câmara Municipal (Roteiro Turístico)

Localização - Setúbal


terça-feira, 8 de abril de 2008

Promoção

Quanto à promoção do espaço, a seu tempo se fará um site na Internet para divulgar a exposição, para além da referência no site da Câmara Municipal de Alcácer do Sal. Alguns folhetos distribuídos essencialmente na pousada também vão ajudar e a tentativa de darem o espaço a conhecer noutros pólos também estão a ser pensados.
Os folhetos da autarquia fazem menção às diferentes características e riquezas do município, não havendo ainda panfletos estritamente produzidos para a cripta.

No site da Câmara Municipal destacamos um vídeo interessante de apresentação à cripta arqueológica, onde se podem também ver alguns destaques relativos à inauguração da cripta e à Villa Romana de Santa Catarina dos Sítimos.
Apesar destas iniciativas, que valorizamos, seria importante organizar outras formas de promoção, talvez em maior escala e mais diversificadas, mas será trabalho ainda a levar a cabo por quem se responsabilizar pelo espaço, ainda sem grandes perspectivas de futuro.

Futuro



O tema, as escavações arqueológicas e consequentes descobertas continuam a ser estudadas. Alcácer do Sal é, por excelência, um espaço privilegiado para o estudo arqueológico, e não só aquilo que falta investigar, como os restantes materiais encontrados, são já uma grande base para futuras investigações e mostras. “Uma exposição não deve ser estática”, refere Fernando Táta. É por isso que está já pensada a possibilidade de estabelecer aqui algumas mostras temporárias, para diversificar a oferta e pôr ao alcance do público as imensas peças armazenadas nas já centenas de contentores.
No entanto, pela conversa com os técnicos, conseguimos perceber que não existe uma planificação ou agendamento neste aspecto. Primeiro, urge a inauguração, e depois se pensará no que virá a seguir. Embora seja importante recolher as opiniões e o interesse dos visitantes ao sítio para estabelecer os próximos passos a dar, considero que faria falta alguém que tivesse o planeamento futuro como principal preocupação, para que o espaço saísse potenciado nas inúmeras possibilidades que pode acarretar.

Financiamento

“Não há trabalhos perfeitos”, diz Fernando Táta. Além da condicionante “espaço”, outras como as verbas, e “muitas sensibilidades que se tornam muitas vezes incompatíveis e é preciso compatibilizá-las”, levam à necessidade de encontrar um “ponto de equilíbrio”. São essas condicionantes que, muitas vezes, reforçam a ideia de se ter uma equipa pequena, com quem seja mais fácil trabalhar e com quem se tenha já trabalhado anteriormente.
Financiada em cerca de 80 % pelo IPPAR e pela autarquia, a cripta foi pensada para que a totalidade das despesas fosse coberta por esses fundos. O equilíbrio entre o que se pretendia e o que podia ser feito foi encontrado em função da verba atribuída, por forma a que não houvessem gastos exteriores ao orçamento.
De facto, acaba por ser esta a primeira e mais importante limitação ao trabalho de todos quantos se dedicam a estes espaços, daí a pluralidade de funções que a si próprios atribuem, passando rapidamente a considerar que faz parte da sua lista de tarefas.

A exposição






Nas decisões sobre como apresentar a exposição propriamente dita, optou-se por começar pelo passado mais recente (há imagens das escavações) e continuar para o mais antigo, percorrendo a História desde a época contemporânea, Idade Medieval, época islâmica, ocupação romana e, finalmente, da Idade do Ferro. Além desta opção, pensada para ver vista como uma “viagem através do tempo”, foram escolhidas as peças mais bonitas ou aquelas que se consideraram as mais significativas de cada época. A decisão de expor poucas peças, “para que a atenção não se disperse. Não se vê a árvore por causa da floresta”, defende Fernando Táta. Também por considerarem essa necessidade, há pequenas lupas para mostrar os pormenores de um amuleto minúsculo e placas que contam a história de um santuário da época romana.

É a paixão dos técnicos pela arqueologia que os terá feito evidenciar aspectos que nos poderiam ter passado ao lado, provavelmente. Além disso, por toda a exposição existem painéis explicativos, pequenas placas com legendas em português e inglês e plantas das escavações para percebermos o contexto em que nos inserimos.

O técnico "faz-tudo"

Além das ideias, os técnicos fizeram a musealização, foram também fotógrafos, pensaram nos materiais, etc. Como disse a Dra. Esmeralda: “os arqueólogos fazem tudo. Portanto, fazemos tudo, somos os bombeiros”.
Encontrámos este factor em praticamente todos os locais que visitámos, ao longo da pesquisa dos possíveis contextos profissionais de um promotor artístico. No fundo, os responsáveis das áreas, arqueólogos neste caso, acabam por fazer um pouco de tudo para construírem o espaço, organizarem e elaborarem a comunicação, a própria promoção do museu e do seu conteúdo. Tudo é pensado e decidido entre aqueles que já trabalham naquela área, constituindo uma equipa reduzida e, como os próprios técnicos assumiram, isto implica mais tempo e uma grande dedicação por parte de pessoas que não tiveram formação naquilo que têm de elaborar.
Apesar de um conhecimento grande nos conteúdos de que tratam, os técnicos lidam com todas as vertentes do espaço museológico: inventam, imaginam, fotografam, orientam o espaço e materiais da forma que consideram mais significativa para mostrar ao público, olhando com olhos de técnicos, de interessados na área de estudo. Este factor poderá trazer benefícios, porque há uma envolvência “por dentro”, mas também seria positivo a contratação de profissionais mais direccionados para a área da comunicação, da divulgação, que conhecessem as melhores técnicas, e as mais diversificadas de forma a potenciar e a valorizar da melhor forma possível um espaço que exigiu tempo, dedicação e fundos.

O espaço e as suas limitações






Quanto ao espaço, os condicionamentos da cripta levaram a opções limitadas, que influenciaram a escolha e a própria organização da visita. Os corredores estreitos, por exemplo, e a irregularidade do solo, fizeram nascer a necessidade de se proceder à inserção de umas escadas em ferro que todos os visitantes têm de percorrer para poder ter acesso à visita. Apesar das casas de banho, logo à entrada do espaço, terem bem visível a sinalização de instalações adaptadas a pessoas com mobilidade reduzida, a verdade é que se tornaria muito complicado, se não impossível, que pessoas com cadeiras de rodas, ou mesmo apenas com alguma dificuldade para se moverem, fazerem a visita sem problemas. Este facto é do conhecimento dos técnicos que planearam o espaço. Apesar disso, tiveram de trabalhar com as limitações do espaço que existia, e acabaram por optar não pensar muito nas pessoas com esse tipo de necessidades. Mesmo a escuridão, os espaços exíguos, as legendas reduzidas, dão claramente a entender que este é um espaço pensado para visitantes adultos, sem grandes problemas físicos de qualquer ordem, que demonstrem já algum interesse pelo tema e dêem particular ênfase ao facto de estarem a entrar literalmente num espaço onde outros povos já passaram e onde as peças arqueológicas ainda se podem ver a “saltar” das paredes.
Na necessidade de revitalizar um espaço já existente, e que não foi pensado de raiz para receber uma exposição, foi também crucial retirar dele a melhor forma de expor as peças, não entrando demasiado em colisão com a pousada (ainda hoje é polémico ter transformado o convento, em ruínas, num espaço hoteleiro). Para isso, serviu também a ajuda do arquitecto Diogo Pimentel com uma intervenção de Brás Mimoso e Lacerda, do IPPAR.
Sendo um espaço interior com características únicas, de um ambiente em cripta, outros aspectos tiveram de ser considerados, desde o número máximo de pessoas por visita (20), à obrigatoriedade de todos os espaços como este de regras previamente estabelecidas de segurança.
Façamos nós as considerações que quisermos sobre a forma como o espaço foi pensado, é importante termos em conta as imensas restrições que implicava, para além do interesse significativo em que a exposição se fizesse aqui e não num museu com o espaço que conhecemos habitualmente de paredes lisas e salas largas. Estes constrangimentos levam, com certeza, às dificuldades que já referimos de visita, mas trazem consigo também a mais-valia de se poder entrar no local exacto em que as escavações foram feitas, de se poder ver as peças ainda no local de origem, de podermos “sonhar” que somos um arqueólogo por um dia. Este espaço não retira a necessidade de existência de outros museus onde se possa percorrer o espaço mais à vontade, mas estes também não o fazem de volta. A exposição inserida assim dá um gosto diferente às peças, transforma-as em imagens de episódios históricos vividos na realidade. É possível ver as estruturas, as fundações do Convento, acrescentadas com novas estruturas que fazem uma nova reutilização do espaço.

Planificação - Guião Base


Levar à musealização peças soltas, referentes a diferentes épocas históricas, pode ser, como referiu a Dra. Esmeralda na nossa visita “uma grande dor de cabeça”. Primeiramente, foi imprescindível fazer um guião-base da exposição, através da inventariação, triagem, selecção do imenso espólio encontrado nos anos de escavações. A partir de uma ideia de base, os técnicos responsáveis partiram à procura de uma forma de mostrar no pequeno espaço como essas ideias poderiam ser abordadas, que peças deveriam ser escolhidas em detrimento de tantas outras para representar da melhor forma possível os diferentes povos que por este concelho, e esta área em particular, foram passando. A ideia de guião-base foi construída com a ajuda de muitos profissionais: diversos investigadores das diferentes épocas (para cada época histórica são convidados a dar o seu contributo especialistas na área), os técnicos do IGESPAR, a Dra. Esmeralda Gomes e o Dr. Fernando Táta, os responsáveis do Sector de Arqueologia da Câmara Municipal, António Carvalho e Marisol Ferreira, o Dr. João Faria (arqueólogo e apaixonado por Alcácer, entretanto falecido subitamente em 2006; homenageado no dia de inauguração da cripta), o Dr. António Craveiro Paixão (antigo responsável do sector de arqueologia da Câmara Municipal de Almada, agora reformado), uma desenhadora de peças e duas técnicas de conservação e restauro.
Antes de qualquer outro aspecto, percebemos que planificar bem o projecto é o primeiro passo a dar no que toda a qualquer projecto, sendo necessário pensar em todos os pormenores, quer teóricos, quer práticos, para proceder à realização propriamente dita.
“Vimos a base com toda esta quantidade de espólio para fazer uma viagem, para fazer uma inventariação, para verificar que, do ponto de vista quer cultural quer museológico tinha interesse para expor aqui na cripta. Para esse efeito foi-nos solicitado um guião base da exposição, portanto, nós, tendo como ponto de partida o espólio que nos apercebemos que existia, e também o espaço, tivemos que estruturar uma ideia de base da exposição, portanto, do que é que a exposição ia tratar, como é que as matérias iriam ser abordadas no âmbito da exposição, que peças é que seria mais importante integrar para melhor se ter exemplares que permitissem transmitir uma ideia dos diferentes quotidianos dos vários povos que aqui passaram, não é? E portanto, pegando em todos esses factores e nas condicionantes existentes de espaço, tivemos que elaborar aquilo que seria um projecto de exposição. E essa foi a parte, talvez, que exigiu mais do ponto de vista da nossa imaginação, até porque conseguimos trabalhar com os elementos existentes. E é o que vocês vão ver.”
Dra. Esmeralda Gomes

Contexto e actividade desenvolvida



Pertencente ao distrito de Setúbal, Alcácer do Sal é sede de um município dividido em seis freguesias, englobando cerca de 13.500 habitantes. Neste município, para além da riqueza natural que se avista, o património arqueológico é muito vasto, trazendo à memória os tempos dos castelos muçulmanos e a passagem de romanos por estas terras.
Pensa-se que há mais de 5.000 anos que exista ocupação humana no município, o que se esclarece inventariando as peças pertencentes à Idade do Ferro, à ocupação romana, aos visigodos e muçulmanos que por aqui passaram. Estes vestígios são hoje de uma grande importância para constituir a história do concelho e do país e aqui foram encontradas peças com uma abundância extraordinária, havendo muito ainda por descobrir sob as casas e terras do mundo contemporâneo. Diz a arqueóloga do IGESPAR, Dra. Esmeralda: “Alcácer é muito rica em arqueologia. Dá-se um pontapé numa pedra e encontra-se espólio”.
Com o Museu Municipal Pedro Nunes a ser recuperado para uma nova musealização, com a ideia de se transformar o espaço em local privilegiado de exposições temporárias, surgiu a hipótese de ter uma mostra que contasse a história dos povos que passaram por Alcácer do Sal.
Com as primeiras escavações entre 1993 e 1997, escondiam-se debaixo das muralhas imponentes do Castelo de Alcácer, resquícios dos povos que aqui habitaram, artefactos arqueológicos que foram sendo descobertos e armazenados em cerca de 400 contentores de material a guardar para a posteridade. Após anos de escavações e muitos achados arqueológicos, começou-se a formar na mente dos apaixonados de arqueologia de Alcácer, a possibilidade de mostrar algumas dessas peças no mesmo local onde foram encontradas, adaptando uma cripta por baixo do castelo, hoje Pousada D. Afonso II. Além desta possibilidade de entrar em contacto com os vestígios de outros povos, é também possível ver o local onde foram feitas escavações, uma parte de um fórum romano e peças ainda presas às paredes da cripta, denotando-se a quantidade imensa de achados arqueológicos desta zona.
O espólio arqueológico, constituído por peças em cerâmica, em vidro, metal, ferro, bronze, chumbo, em osso, ou tecidos foi primeiramente limpo e estudado pelos técnicos, nos seus contextos históricos, com o objectivo de compreender o interesse arqueológico dos achados e da conveniência de os tratar num espaço a visitar pelo público em geral.
Primeiramente, fizemos uma visita à cripta arqueológica do Castelo de Alcácer, ainda por inaugurar (a inauguração aconteceu no Dia Internacional dos Monumentos e Sítios, 18 de Abril) com os técnicos do IGESPAR, a Dra. Esmeralda e o Dr. Fernando Táta, acompanhados da responsável do Sector de Arqueologia, Museus e Património Cultural da Câmara Municipal, Marisol Ferreira. Os três técnicos, além da visita, explicaram-nos a forma como procederam à inventariação do espólio e de todo o processo de percepção para verificar que, do ponto de vista quer cultural quer museológico, tinha interesse para expor esses objectos na cripta.
Visitámos também a Villa Romana de Santa Catarina dos Sítimos, onde pudemos constatar um dos locais onde ainda se procedem a escavações no concelho de Alcácer do Sal, contando com a companhia do outro responsável do Sector de Arqueologia, António Carvalho.

Curiosidades


À nossa espera, nas instalações da Junta de Freguesia de Santiago, tínhamos a colega Rita Rito, que nos encheu de doces e presentes.

Não havia melhor forma de apresentar as maravilhas de Alcácer!

Alcácer é notícia!

"Alcácer do Sal inaugura cripta arqueológica

A cripta arqueológica localizada no castelo de Alcácer do Sal, no piso inferior da Pousada D. Afonso II, foi inaugurada na última sexta-feira (18 de Abril), Dia Internacional dos Monumentos.
Na cerimónia de inauguração, que contou com as presenças da Secretária de Estado da Cultura, Paula Santos, e da Governadora Civil do Distrito de Setúbal, Eurídice Pereira, o director do IGESPAR – Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico (Elísio Summavielle), o director regional de Cultura do Alentejo (José Nascimento) e o presidente de Câmara Municipal de Alcácer (Pedro Paredes) assinaram um protocolo para a gestão da cripta.

De acordo com o protocolo firmado entre as três entidades, a gestão da cripta arqueológica fica a cargo da Câmara de Alcácer do Sal, que é igualmente responsável pelos encargos de funcionamento da mesma e fiel depositária do seu espólio.

Ao IGESPAR cabe a concessão de autorização para a realização de trabalhos relativos às estruturas e bens culturais da cripta, independentemente de serem de natureza arqueológica, de investigação, conservação ou outros.

A Câmara de Alcácer, ainda segundo o protocolo, tem de pedir autorização prévia à DRCALEN – Direcção Regional de Cultura do Alentejo para qualquer acção que implique o manuseamento ou deslocação do espólio da cripta, a realização de estudos relacionados com os materiais arqueológicos, substituição / alteração dos sistemas de segurança, da organização da exposição e das peças que a constituem, dos conteúdos multimédia, equipamento expositivo, sistemas de iluminação e abertura de vitrinas.

Depois da assinatura do protocolo, Pedro Paredes, Presidente de Câmara de Alcácer, tomou a palavra para relembrar o imenso trabalho de recuperação que foi feito naquele espaço, que de castelo se transformou em pousada e agora alberga a cripta arqueológica, mencionando ainda o papel que João Faria (arqueólogo e antigo vereador do município) desempenhou neste processo.

José Nascimento, Director Regional de Cultura do Alentejo, adiantou que durante o mês de Abril vão “abrir ao público um conjunto de monumentos e sítios que têm estado fechados e que resultam, tal como este resultou, de uma perspectiva que o IGESPAR e as direcções regionais estão a implementar de uma forte colaboração, um trabalho em rede e de co-gestão destes sítios e monumentos”.

“Este primeiro acordo com a Câmara Municipal de Alcácer do Sal é para nós muito significativo, porque é o início de uma relação que vai ser ainda mais aprofundada. É para nós um grato prazer ter esta profunda relação com esta autarquia, este é o primeiro passo no âmbito do património cultural material, mas dia 17 de Maio vamos celebrar também um protocolo com a autarquia para um projecto que a direcção regional de cultura está a levar a efeito sobre o património imaterial do Alentejo” sobre o Ladrão do Sado, acrescentou, salientando que nesse dia vai ser feito um colóquio com “Paulo Scarnequi, que é um dos maiores (se não o maior) especialista mundial do canto ao improviso” e no qual também vão marcar presença a comissão nacional da UNESCO, o director de serviços do imaterial do instituto dos museus e da conservação e a universidade de Évora, entre outras entidades.

Já o director do IGESPAR, Elísio Summavielle, fez em primeiro lugar uma homenagem a João Faria e Cavaleiro Paixão, os mentores deste projecto em que o POC investiu “130 mil euros”.

“Esta assinatura de protocolo tem um significado especial no quadro institucional que vivemos actualmente e resultante da reforma da administração central em que o poder local está na primeira linha e detém maior aproximação do património e assume maior responsabilidade na sua gestão futura e é um exemplo como, felizmente, vem acontecendo em muitas autarquias”, completou.

A Secretária de Estado da Cultura, Paula Santos, agradeceu o trabalho de todos os técnicos que permitiu chegar a este ponto e relembrou que o património pode trazer nova dinâmica à região.

“Podemos utilizar o património de forma nova, podemos revisitar esse património com uma nova leitura relativamente ao seu valor e que nos permite, neste enquadramento deste sítio, no quadro de termos uma pousada, nesta articulação com uma actividade económica dos dias de hoje e moderna, poder utilizar esse património fechando um ciclo e dando-lhe continuidade para que ele possa representar aquilo e a valorização que já teve no passado, mas que também possa ser encarado como um novo elemento para dinamizar relativamente no futuro o potencial que a região continua a ter. A abertura desta cripta arqueológica, que a partir de agora vai estar aberta ao público, permite que, através dessas estruturas que encontramos possamos introduzir exactamente estes novos factores de desenvolvimento económico e penso que este projecto espelha por excelência que é possível encontrar soluções em parceria que garantem a sustentabilidade futura dos equipamentos que representam uma mais-valia para a região e para o município e que numa articulação, neste caso específico com uma experiência turística, pode constituir um pólo cultural muito importante”, referiu Paula Santos.

Finda a cerimónia, os presentes repartiram-se em dois grupos uma visita guiada à cripta, seguindo-se um almoço na cripta.

A cripta arqueológica pode ser visitada de terça-feira a domingo, das 10h00 às 19h00. Até ao mês de Julho as entradas são gratuitas."

in http://www.mirasado.pt/

"Escavações em "villa" romana "ímpar" (Alcácer do Sal).

As escavações na "villa" romana de Santa Catarina de Sítimos, no concelho de Alcácer do Sal (Setúbal), foram retomadas esta semana, depois de uma primeira campanha arqueológica efectuada no ano passado, informou hoje o município.
Segundo a Câmara Municipal de Alcácer do Sal, a segunda campanha de escavações na "villa", que começou a ser posta a descoberto em Maio de 2006, iniciou-se segunda-feira e vai decorrer até final de Setembro.
"Estes trabalhos arqueológicos são muito importantes porque uma 'villa' romana desta dimensão é única em todo o Litoral Alentejano e mesmo a nível nacional", assegurou hoje à agência Lusa Isabel Vicente, vereadora da Cultura na autarquia.
Segundo a vereadora, a campanha realizada em 2006 permitiu revelar a existência de "peças importantíssimas", fazendo "adivinhar que se trata de uma obra cultural ímpar" que o município quer continuar a escavar.
"Queremos aprofundar estas escavações e pôr depois à disposição dos visitantes, que acorrem cada vez mais à vizinha povoação de Santa Catarina, para ver a 'villa', este importante património cultural e histórico", disse.
Já com ideias de instalar no local um núcleo museológico, o município pretende continuar, "nos próximos anos", com as campanhas arqueológicas que, até agora, já fizeram "renascer" uma piscina e o que os arqueólogos acreditam ser um santuário pagão.
"Prevemos que a piscina, cujo piso está intacto, seja muito grande porque, apesar de grande parte estar já escavada, foi descoberto um muro que parece não ter fim", afiançou a vereadora.
Esse equipamento de ócio romano, de acordo com o município de Alcácer do Sal, é "pouco vulgar" em Portugal e poderia servir para "delimitar a própria villa, dada a sua localização paralela à ribeira de Santa Catarina".
Durante os trabalhos foram ainda encontradas várias peças, como cerâmicas, lucernas e símbolos, um deles com a representação de Vénus.
"Acreditamos que existiria ali um santuário pagão, em que se faria o culto àquela deusa", frisou Isabel Vicente.
Apesar de estar situado no Litoral Alentejano, o concelho de Alcácer do Sal não possui faixa costeira, já que as praias integram o vizinho município de Grândola.
Por isso, sublinhou a vereadora, a aposta do município assenta na cultura: "Queremos ser a capital da cultura do Litoral Alentejano".
"O litoral vai desenvolver-se muito, com todos os investimentos turísticos projectados e em curso na região, mas as pessoas que vão à praia, ao fim de uns dias, também querem ver outras coisas", vaticinou.
Alcácer do Sal, onde existe "muito património por escavar", quer captar esses mesmos turistas através da sua "riqueza cultural".
A "villa" romana de Santa Catarina de Sítimos foi identificada em 1977 e o terreno onde está implantada passou para a posse da autarquia em 1984.
Os trabalhos arqueológicos chegaram a iniciar-se dois anos depois, mas foram interrompidos durante duas décadas."

O que já sabíamos

Sites Oficiais:

Cripta Arqueológica

Villa Romana de Santa Catarina dos Sítimos

Localização